terça-feira, 27 de setembro de 2011

“eu tenho de te dizer, meu bem, que eu sou uma verdadeira tempestade. aqui dentro não existe meio termo, não fica nublado… aqui dentro só cai tempestade de granizo ou fica tudo ensolarado. é por isso que hoje eu te faço uma espécie de pedido desesperado. hoje em dia acho que o que mais precisamos é de falta de compromisso. sei que de primeira parece até ideia de jerico mas depois de analisar os fatos sei que você vai concordar comigo. precisamos de leveza. precisamos de menos exagero… sei que a culpa é toda minha. o mal-me-quer tem sono leve e eu pareço um tornado, com tudo que há de bom e de ruim. eu até prometo consertar isso e ser menos estrondoso, meu bem. é por isso que te digo, com uma cara meio lavada demais, pra sermos menos, pra deixarmos correr naturalmente. o mal-nos-quer não dorme, só cochila e ele tá na nossa cola. temos de ser leves, entende? não podemos fazer movimentos bruscos. é por isso que eu te digo, se for pra ser, será, e se não for, vai ser, a gente dá um jeito. qualquer coisa a gente usa esse nosso amor todo como desculpa, pelo menos nosso exagero vai nos servir de alguma coisa. sei que meus planos nunca dão certo, que já te meti em uns buracos meio medonhos e que eu ainda não achei a saída desse meu maldito labirinto, mas te chamar de meu beija-flor é quase uma prece, e faz parte do meu plano. entende, meu amor, não quero te ver em apuros… beija-flores são rápidos, e leves, muito leves.”

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


"E eu carrego comigo tudo o que eu não disse a você. Carrego aquele fim de tarde, aquela última noite e o último erro. Tenho em meus lábios aquele gosto amargo do fim de nós dois e ainda sinto aquela velha angústia. A mesma que me atormentara meses atrás. Minhas mãos continuam geladas, trêmulas. E o espaço que você não preenche mais parece estar criando vida; cresce e arde de forma desmedida. E sabe, eu te escrevo agora pois tenho muita coisa presa na garganta. Muita lembrança ocupando espaço, obstruindo. E me bate um medo tão grande quando me vejo tendo a certeza de que tudo isso é irreversível. Quando eu penso que nada poderá mudar o que foi dito e feito. E em meio a esse medo vou sendo esmagada pela minha própria falta de coragem; de mãos atadas vou assistindo meu espírito se tornar cada vez mais pesado. Assisto sem mover um músculo sequer porque nisso tudo eu não vejo mais saída. Não consigo mais re-inventar minhas esperanças, tão gastas. Me adaptei a inércia. Não há mais nada que me faça submergir."

sábado, 20 de agosto de 2011

Doctor, what is my problem?


Era quarta feira à tarde, entrei na consulta e sentei no primeiro sofá que vi. A sala parecia meio escura, tinha um cheiro forte de incenso, mas relaxante. E obviamente o proposito era nos relaxar, pois de mundo estressante, claro e assustador já vivemos grande parte do dia lá fora. A doutora entrou, sorriu como provavelmente fazia com todos os que sentavam naquele sofá, todos os dias. Não sou lá muito fã de psicólogo não, sabe. Acho que eles têm uma resposta elaborada para cada tipo de problema que constantemente julgamos ser um problema, mas não passa de angustias que todos carregam no dia a dia. A verdade é que queremos mesmo alguém pra desabafar que não vá comentar com outro alguém o que você disse. E nada melhor do que um psicólogo desconhecido por seus amigos e familiares.
Já estava pronta, preparada, para contar sobre ele. Estão vendo? Tenho certeza que alguém também tem um "ele" ou uma "ela" que encara como problema. Sabemos.
Por onde começar? Começo dizendo que o amo, mas o odeio. Que o quero por perto, mas ao mesmo tempo não quero encontra-lo. Que quero que ele me ame só pra fazer bem pro meu ego (difícil assumir isso.) ou que o quero de volta? Posso começar contando a historia desde o início, seria bom, mas uma consulta de uma hora e vinte não seria suficiente. Ainda mais detalhada do jeito que sou. Conto como os dias tem sido difícil sem ele? Não, não quero parecer coitada.
Começo então retribuindo o sorriso, talvez seja uma boa ideia.
Ela começa, puxando um assunto banal, aqueles que você sabe que querem chegar a um lugar, mas não querem te assustar então vão elevando o nível a cada pergunta, desde ‘’como você está?’’ até ‘’qual o seu problema?’’
É, foi exatamente assim.
É tão visível que eu tenho um problema, doutora? Talvez o meu problema seja achar que tenho algum.
Sabe o que aconteceu, de verdade? Apaixonei-me e me decepcionei. Comum, não? Ela afirmou com a cabeça, querendo se aprofundar no assunto, mas percebendo que eu não daria abertura.
Então ela se resume a um ‘’Conte mais um pouco. ’’
Parei por alguns minutos, respirei fundo, e isso foi digno de algumas risadas pra ela. As pessoas costumam achar graça quando me sinto conturbada.
Procurei algo, algum problema que realmente valesse o preço daquela consulta que marquei aleatoriamente em minha semana. Nada.
E sabe de uma coisa? Realmente não havia problema. Não, eu sei, eu chorei, eu sofri, eu comi um bolo praticamente inteiro quando cheguei em casa após vê-lo na rua com aquela piranhazinha. Eu liguei para minhas amigas e as aluguei horas e horas entupindo todas de ‘’E se...e se..e se...’’ Eu sei disso tudo. Mas que mal tem? É natural. Passou.
A verdade é que nós somos os autores dos nossos pesadelos. Nós criamos nossa dor, as pessoas na realidade apenas nos apresentam atitudes as quais muitas vezes achamos que é o fim da nossa vida, que será perto disso. Ou que será suficiente pra você se autodestruir tanto nas atitudes quanto nos pensamentos.
A vida, em si, é a obra mais bonita. Somos nós os causadores de nossas dores pelo simples fato de querer nos doar a alguém, ou a algo, mais do que nos doamos pra a vida. Se aproveitássemos cada momento como o ultimo, e tivéssemos a consciência de que tudo um dia vai acabar dor maior não existira.
Pois nem mesmo a vida, com todos esses participantes que dela fazem o que quiser, é eterna.
O amor existe. Vida sem amor não seria bonita. Mas quem foi que disse que ele precisa ser pra sempre?
Sempre existirão novas pessoas, novas risadas, novas festas, novos vestidos, novos sapatos, novos choros, novos medos, novas frustações, novos beijos, novos amores,  pois a graça está nisso, no novo.
Confesso, sim, eu confesso que quando o vi com uma nova mulher não foi nada agradável. Temos mania de querer mais, mais tempo, mais amor, mais exclusividade, mais carinho, mais atenção. Mas lembramos de que isso, no final, causa mais frustação?
Não te peço para ser alguém que não acredita em nada. Se algum dia viver um amor eterno ou uma vida eterna, por favor, escreva pra mim, em outra encarnação posso ler, quem sabe.
 Peço-te apenas para que entenda que nada será pra sempre.  Você não será imortal então porque algo que passa em sua vida tem de ser? Sentimentos morrem, às vezes nascem de novo, às vezes se fingem de morto, é natural. Mas um dia, sem que eles queiram, irão partir. E cabe a você se deixar ir junto, ou ganhar outro. Permita-se.
Não se prenda a algo que já não faz sentido. Liberte-se. Pode ter certeza que se algo tiver que voltar para seus braços, seja aqui ou em outro lugar, voltará, pelas forças do vento. Pois parece que não, mas está tudo escrito. E qualquer passo, qualquer palavra dita em hora errada pode te transportar para um lugar desconhecido da noite para o dia, mas uma hora, você volta.
E de todas as coisas que essa irônica e filha de uma mãe vida me ensinou, uma das mais difíceis que notei é, praticar o desapego soa como impossível. Se apegar e se desapegar a algo é doloroso. Soa mais difícil do que subir pelas paredes. Mas te digo, é possível.
Pois como já te disse, sempre haverá o novo. Basta você sair e deixa-lo vir.
Por isso, quando perceber que algo já esteve em suas mãos e hoje se encontra em outras mãos, lembre-se que você a qualquer momento pode segurar algo novo.
E se puder, se quiser, não solte. Até que a vida te obrigue.
Entrega-se, mas não para alguém que pisa no mesmo chão que você, vá além. Dê a mão pra vida, e te garanto, ela te colocará ao lado do que você merece. Por isso, faça por merecer. Faça o bem, que o resto vem.
Após isso tudo, quis compartilhar com a doutora esse pensamento, ela se surpreendeu e disse que na verdade, ela foi consultada.  Levantei-me, abri a porta e fui embora. Quando atravessei a rua, olhei para o céu, agradeci mentalmente a tudo que vivi e sorri. Pois se maior dor eu não tivesse sentido, se algo tão doloroso não tivesse vivido, e se não tivesse me permitido, não teria aprendido. Às vezes a vida coloca algumas pessoas em nossa vida e tira, sem mais nem menos, apenas para aprendermos a dizer adeus. Difícil mesmo vai ser dizer adeus a ela, não é mesmo?